Vereador Coronel Meira pede instauração de CEI em relatório sobre caso hacker

Comissão Temporária apura denúncia de que o cunhado da prefeita teria contratado hacker para espionar jornalista e vereadora

O relatório de Meira para a Comissão Temporária tem mais de 80 páginas (Márcio D’Ávilla/ Diário do Brasil)

O vereador Coronel Meira (União Brasil), relator da Comissão Temporária, pede em relatório a instauração de uma Comissão Especial de Inquérito (CEI) para apuração da denúncia de que o cunhado da prefeita Suéllen Rosim (PSD), Walmir Vitorelli, teria contratado um hacker para invadir as redes sociais da vereadora Estela Almagro (PT) e do jornalista Nélson Gonçalves.

O documento será apresentado aos outros membros na próxima reunião da Comissão, que deve finalizar os trabalhos no dia 5 de abril (sexta-feira). Se aprovado pelo colegiado, o pedido precisa da assinatura de pelo menos seis vereadores para que a CEI seja instaurada.

Fazem parte da Comissão Temporária: o presidente, Eduardo Borgo (NOVO), o relator, Coronel Meira (União Brasil), e os membros Chiara Ranieri (União Brasil), Estela Almagro (PT) e Manoel Losila (MDB).

Na Tribuna, Meira alegou que uma CEI tem mais poderes para investigação que uma Comissão Temporária, como a possibilidade de solicitar à Justiça a quebra de sigilo telemático e bancário, convocar cidadãos para prestar depoimento e pedir à Polícia o compartilhamento de documentos de investigação.

“Nós convidamos por duas ou três vezes o seu Walmir [cunhado de Suéllen], que é o protagonista principal desse caso de bisbilhotagem da vereadora Estela e do jornalista Nélson. Mas ele, por ser um convite, já que a Comissão Temporária não tem poder de polícia para exigir a sua presença aqui, declinou o convite. A Prefeita, também, a mesma coisa usando a prerrogativa do cargo que lhe compete. De uma certa forma, a Comissão [Temporária] fica de mãos atadas, porque nem mesmo a Polícia Civil ou a Justiça compartilham provas daquilo que estão apurando”, argumentou o parlamentar.    

Depoimento do hacker

Em depoimento à Comissão Temporária em 27 de dezembro, o hacker Patrick Brito afirmou que Walmir Vitorelli o contratou para invadir celular, conta bancária e redes sociais do jornalista e para deletar as redes sociais da vereadora no segundo semestre de 2021, época em que ocorreram os trabalhos da CEI da Fersb na Câmara Municipal. Segundo ele, Walmir sentia “raiva” com relação às publicações do jornalista sobre a CEI e, por isso, gostaria de encontrar, através da espionagem, “alguma coisa que pudesse usar contra o Nelson”.

Almagro foi a relatora da CEI e estaria na relação de ligações telefônicas do celular do jornalista. Patrick conta que Walmir considerava a vereadora como a fonte do repórter, motivo pelo qual o cunhado da chefe do Executivo pediu que o hacker deletasse as redes sociais da parlamentar. “Deixa ela sem rede social para aprender”, teria dito Braga a Patrick em conversa no aplicativo Whatsapp

Assim como pelas publicações do jornalista Nelson Gonçalves, Walmir sentia “muita raiva” da vereadora Almagro, segundo Patrick. Em uma das conversas com o hacker, o cunhado da prefeita teria dito que “sentia vontade de matar”, se referindo à parlamentar. “Eu tinha medo que o Walmir fizesse alguma coisa mais grave com ela e eu ser envolvido nisso”, declarou Patrick durante o depoimento. 

O cunhado de Suéllen Rosim teria cogitado contratar os serviços de espionagem para os demais parlamentares e também para o vice-prefeito de Bauru, Orlando Dias. De acordo com Patrick, Walmir teria revelado que a chefe do Executivo tinha receio de que seu vice-prefeito planejasse assumir seu cargo à frente da Prefeitura no contexto da CEI da Fersb. “Ela tinha insegurança, porque o Orlando é médico de formação, é mais velho e é um político profissional, enquanto ela era uma outsider. Então, ela tinha medo de perder o cargo para ele”, disse. 

O hacker afirmou que Suéllen Rosim sabia dos serviços de espionagem e que teria “gostado muito”. “Ele [Walmir Braga] falou que ela sabia, que ela tinha conhecimento de tudo e que estava satisfeita com o meu trabalho”, disse Patrick. 

No depoimento, o hacker disse que mantinha conversas com o cunhado da prefeita através do aplicativo Whatsapp e que teria encaminhado os relatórios sobre suas invasões para seu endereço de e-mail. No entanto, Patrick admitiu que não possui mais esses diálogos, pois exclui todas as conversas no aplicativo.