Projeções do IBGE apontam que a população brasileira deve parar de crescer em 2041

As projeções do IBGE com dados do Censo de 2022 divulgadas no fim de agosto apontam que a população brasileira vai parar de crescer em 2041, quando chegará a 220 milhões de habitantes. A partir deste ano, a população deve diminuir, até chegar aos 199 milhões de habitantes em 2070. Hoje, a população é de 203 milhões.

As projeções de população servem de parâmetro para políticas públicas nas três esferas de governo e para o cálculo do Fundo de Participação dos Municípios e dos Estados. Isso porque elas informam qual é a população do país a cada ano, porque os Censos Demográficos ocorrem apenas a cada dez anos.

A desaceleração do crescimento da população acontece em ritmos distintos nas unidades da federação. As populações dos Estados de Alagoas e do Rio Grande do Sul, por exemplo, já vão diminuir a partir de 2027. Em São Paulo, esse ponto de virada deve acontecer em 2037.

O que pode ajudar a explicar essa desaceleração do crescimento da população brasileira são a diminuição da taxa de fecundidade, ou seja, do número de filhos por mulher, a diminuição do número de nascimentos e o aumento da idade média em que mulheres têm seus filhos.

De 2000 até 2023, a taxa de fecundidade recuou de 2,32 filhos por mulher para 1,57. Com a redução da fecundidade, o número de nascimentos também diminuiu. De 3.572.865 nascimentos em 2000, houve o recuo para 2.574.542 em 2022. Além disso, nos últimos 20 anos, a idade média em que as mulheres têm seus filhos subiu de 25,3 anos em 2000 para 27,7 anos em 2020.

As projeções mostram, também, que a população brasileira tende a envelhecer progressivamente. A esperança de vida ao nascer subiu de 71,1 anos em 2000 para 76,4 anos em 2023. Além disso, a proporção de idosos quase duplicou nos últimos 20 anos. Em 2070, cerca de 37,8% dos habitantes do país serão idosos.

Diante desse cenário, o professor Livre Docente do Departamento de Demografia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas, Roberto Luiz do Carmo, considera que políticas de incentivo à migração e o investimento em políticas públicas de educação para a qualificação da mão de obra é fundamental para que a população consiga vaga no mercado de trabalho e para que haja maior produtividade e sustento do sistema de seguridade social. 

“Então, veja, a migração pode suprir as necessidades do mercado de trabalho. O segundo aspecto que eu chamo a atenção e a qualificação da mão de obra. Então, para essa qualificação da mão de obra ser capaz de sustentar uma economia que está diminuindo o número de pessoas, você tem que ter uma mão de obra muito qualificada. Com essa mão de obra qualificada, você aumenta a produtividade do trabalho e consegue suprir, de certa forma, essa necessidade de mão de obra”, disse o professor.

Outro tema importante que as projeções mostraram foi a concentração populacional em médias e grandes cidades. Cerca de 60% da população brasileira vive em cidades com acima de 100 mil habitantes, que correspondem a apenas 6% dos mais de cinco mil municípios do Brasil. 

Estimativas da População IBGE

“Não é todo o município que vai conseguir ter um conjunto de serviços para atender a população que mora ali naquele município. Então, se o município é pequeno, tem 5000 habitantes, ele não vai conseguir ter um hospital de referência ali, por exemplo. Não vai conseguir ter escolas de ensino médio, não vai conseguir ter uma faculdade. Então, o que acontece? Esses municípios acabam perdendo população. E esses pólos [regiões urbanas de maior concentração de população], que já eram pólos urbanos significativos, se consolidam e alguns surgem novos pólos que concentram população”, avalia o professor Roberto do Carmo, que condiciona essa concentração que as Projeções do IBGE apresentaram ao processo de urbanização brasileiro.

Para evitar a saturação das maiores cidades e das regiões metropolitanas, é papel do Estado brasileiro redirecionar investimentos e incentivos para os pequenos municípios. Roberto do Carmo deu o exemplo da cidade de Pau dos Ferros, no Rio Grande do Norte, que conseguiu gerar uma dinâmica e ter um uma capacidade novamente de atrair e sustentar a população com a criação de um campus do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN), em 2009. “Existem possibilidades através de investimentos ou através de incentivos fiscais, por exemplo, de redirecionar esse crescimento para que a gente não tenha esse contexto cada vez mais acentuado de concentração de população nas áreas urbanas maiores, que já estão saturadas”, avalia o professor.