Profissionais da educação levantam pontos sobre proibição do uso de celular

A Comissão de Educação da Câmara dos Deputados aprovou um projeto de lei que proíbe o uso de celulares e outros dispositivos eletrônicos portáteis por alunos da educação básica em escolas públicas e particulares. A proibição se estende aos recreios e intervalos entre as aulas, visando proteger os estudantes, especialmente crianças de até 10 anos, de possíveis abusos.

O projeto permite, entretanto, o uso de celulares em sala de aula para fins pedagógicos, acessibilidade e questões médicas. A medida surge em um contexto em que o uso excessivo de tecnologia por crianças e adolescentes tem sido uma preocupação crescente.

A professora de Ciências do Colégio PREVE em Bauru, Allana Diniz, destacou que a pandemia de Covid-19 intensificou o uso de tecnologia entre os alunos, tornando o celular uma extensão deles. Esse fenômeno prejudicou a interação e dificultou o aprendizado. “Esse recurso tem impactado negativamente a memorização e a capacidade de concentração”, afirma.

A professora doutora em Psicologia e supervisora do Centro de Psicologia da Unesp, Marianne Feijó, aponta que há um aumento nas queixas sobre falta de atenção e motivação para aprender. “O uso excessivo de telas diminui a tolerância à espera e à frustração, já que o cérebro se habitua a receber estímulos rápidos e recompensas instantâneas” explicou.

No contexto do ensino público, a situação é ainda mais complicada pela vulnerabilidade social e a falta de infraestrutura. Wanessa Cavaglieri Santos, a pedagoga do ensino municipal há 19 anos e coordenadora da Univesp em Bauru, também menciona o aumento do cyberbullying entre os jovens. ” Estamos discutindo a proibição do celular em sala de aula quando deveríamos estar focando na formação dos professores que são os mediadores principais, além disso, a promoção de equidade no ensino deveria ser o objetivo maior, não a tecnologia,” criticou. Para ela, a proibição é válida, mas deve ser aplicada com cautela.

Apesar dos malefícios do uso excessivo de celulares, Diniz sugere que a proibição abrupta não é a solução ideal. “Na escola onde trabalho, a proibição está sendo testada, permitindo o uso durante os intervalos para aliviar a ansiedade dos alunos”, exemplificou a professora do Colégio PREVE.

A equipe de reportagem observou que, durante o intervalo da escola particular, muitos alunos ainda estavam usando seus celulares, o que demonstra a interatividade com a tecnologia. Enquanto isso, alunos mais velhos, como os da Univesp, enfrentam dificuldades com o uso de tecnologia.

O texto aprovado pela Comissão de Educação ainda precisa passar pela Comissão de Constituição e Justiça e, para se tornar lei, deve ser aprovado pelos deputados, senadores e sancionado pelo presidente da república.