Fonte: UOL
O governo federal avançou neste ano na concessão de um trecho de uma hidrovia que, se concedida por completo, pode pôr “fim” ao Pantanal. A possibilidade de que isso aconteça está em um artigo publicado em janeiro do ano passado na revista científica Science of the Total Environment, cujo título pergunta: “O fim de todo um bioma?” O Ministério de Portos e Aeroportos descarta o perigo porque a iniciativa privada exploraria apenas um trecho “menos problemático” da hidrovia do Rio Paraguai.
O artigo científico traça um cenário catastrófico para o desenvolvimento da obra de transporte. “O Pantanal, a mais vasta terra alagável do mundo, está sendo ameaçado por um projeto de hidrovia cuja capacidade para suportar tráfego em larga escala de maneira sustentável é incerta”, diz a tese, defendida por 42 cientistas da Alemanha, Brasil, Estados Unidos e Reino Unido.
No dia 15 de março termina uma consulta pública para a concessão de um dos dois trechos da hidrovia. Se concedida, espera-se que o chamado “tramo sul” escoe até 30 milhões de toneladas de soja, açúcar, milho e minérios a países vizinhos, como Paraguai e Bolívia, a partir de 2030. Quem arrematar o trecho sul deverá investir cerca de R$ 411 milhões. Em troca, terá 15 anos para cobrar pedágio: de R$ 0,10 a R$ 1,27 (dependendo de quando os investimentos forem entregues) por tonelada de carga que passar pelo trecho de 600 km entre Corumbá e a foz do Rio Apa, em Mato Grosso do Sul.
O problema da hidrovia é justamente o fato dela cruzar o Pantanal. O estudo explica que os rios que atravessam o bioma recebem sedimentos arenosos o ano todo, o que “exigiria dragagem perpétua” do canal do rio, o que “desconectaria o rio de sua planície”. “Para a hidrovia funcionar, esses sedimentos precisam ser retirados. Mas para onde eles vão? Vão para as áreas baixas, fora do canal, diminuindo as áreas alagáveis”, diz o geólogo da Unesp (Universidade Estadual de São Paulo) Mário Luis Assine, um dos autores do artigo e também professor de Geociências e Meio Ambiente na Universidade Federal de Mato Grosso.